O relatório preliminar sobre o acidente com o Elevador da Glória, em Lisboa, que vitimou 16 pessoas, revelou uma cadeia de falhas graves na manutenção, aquisição de material e supervisão, gerando um debate nacional sobre a segurança dos transportes públicos e a responsabilização das entidades gestoras. As conclusões levaram o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes (GPIAAF) a recomendar que todos os ascensores da cidade permaneçam encerrados até uma reavaliação completa por uma entidade especializada. A investigação do GPIAAF foi demolidora, apontando que o cabo que cedeu “não respeitava as especificações da Carris, nem estava certificado para uso em transporte de pessoas”. A sua aquisição resultou de um erro no processo de compra, no qual foram usadas especificações de outro equipamento (Elevador de Santa Justa), falha que não foi detetada pelos mecanismos de controlo interno da Carris. O relatório expõe ainda a falsificação de registos de manutenção, com inspeções dadas como “executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado”. A falta de formação dos técnicos e a ausência de supervisão independente foram também apontadas como fatores críticos.
A Carris reagiu demitindo o Diretor de Manutenção do Modo Elétrico e remetendo a responsabilidade da compra do cabo para a administração anterior.
O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, afirmou que a tragédia derivou de “causas técnicas e não políticas”, uma visão contestada pela oposição. Os vereadores do PS na autarquia exigiram a demissão da administração da Carris, enquanto a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans) defendeu que a manutenção dos elevadores deve regressar às oficinas da empresa, invertendo a opção de externalizar o serviço.
Em resumoO relatório preliminar sobre o acidente do Elevador da Glória expôs falhas sistémicas na Carris e nos seus prestadores de serviços, desde a aquisição de material não certificado à falsificação de registos de manutenção. A tragédia desencadeou uma crise de confiança na segurança dos transportes históricos de Lisboa, levando a apelos por responsabilização política e técnica e à recomendação de manter os ascensores encerrados até uma reavaliação de segurança rigorosa.