Perante a contínua pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS), a Associação Nacional de Farmácias (ANF) propôs que os farmacêuticos possam tratar doentes com infeções ligeiras, uma medida que visa reduzir a afluência às urgências. A proposta surge num contexto em que um relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) revela que os gastos com produção cirúrgica adicional ultrapassaram os 627 milhões de euros em pouco mais de três anos. A presidente da ANF, Ema Paulino, defendeu em entrevista que os farmacêuticos têm competências para diagnosticar e tratar certas condições de saúde menos complexas, como infeções urinárias não complicadas, aliviando assim a sobrecarga dos centros de saúde e hospitais. A proposta, no entanto, não é consensual, com as unidades de saúde familiar a manifestarem desacordo.
Paralelamente, Ema Paulino alertou para a necessidade de aumentar o preço dos medicamentos mais baratos para evitar ruturas de stock, um problema recorrente.
A crise no SNS é também evidenciada pelo relatório da IGAS, que analisou a despesa com produção adicional entre 2022 e 2024. O documento revela que o trabalho suplementar no SNS equivale à produtividade de 11 mil profissionais e que, em alguns hospitais, os médicos chegam a realizar mais cirurgias extra do que no seu horário normal de trabalho. A inspeção aponta que a maioria dos hospitais não cumpre o rácio legalmente definido para cirurgias adicionais, o que levanta questões sobre a gestão de recursos e a sustentabilidade financeira do sistema.
Em resumoA crise no SNS manifesta-se em duas frentes: por um lado, surgem propostas inovadoras, como a intervenção das farmácias em casos ligeiros, para aliviar a pressão; por outro, relatórios oficiais expõem uma despesa descontrolada com produção adicional, indicando problemas estruturais de gestão e financiamento que continuam por resolver.