O Paradoxo da Saúde em Portugal: Excesso de Médicos, Falta de Cuidados no SNS



O paradoxo da saúde em Portugal é evidente: embora o país tenha um elevado número de médicos por habitante, com 66 mil clínicos inscritos na Ordem dos Médicos, a realidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é de uma carência crescente. Dados revelam que mais de 78% dos médicos não trabalham nos serviços de urgência dos hospitais públicos. Deste vasto universo de profissionais, apenas 14 mil são especialistas com menos de 50 anos a exercer funções no setor público, uma disparidade que resulta em urgências sobrelotadas e longas listas de espera para os utentes. A situação é agravada por uma contínua 'fuga' de profissionais do SNS. Entre janeiro e outubro, o serviço público perdeu 1.151 médicos, o que equivale a uma média de quase quatro saídas por dia. É de salientar que a maioria destas saídas não se deve a reformas, mas sim a rescisões de contrato, indicando uma decisão ativa dos clínicos de abandonar os hospitais e centros de saúde públicos. Esta perda de capital humano tem um impacto direto na qualidade dos cuidados prestados à população e afeta de forma particularmente severa algumas especialidades críticas.
Entre as áreas mais afetadas por esta escassez de profissionais encontram-se a Obstetrícia, a Pediatria, a Medicina Geral e Familiar e a Anestesiologia.
Neste contexto de pressão sobre os serviços de emergência, surgem também preocupações sobre a estrutura do sistema. A Associação de Emergência Médica manifestou apreensão relativamente a um relatório da Comissão Técnica do INEM que propõe uma 'refundação profunda' do instituto, com medidas imediatas e estruturais, que foi entregue ao Ministério da Saúde.















