A discussão em torno do paradigma "One Health" evidencia a necessidade de uma abordagem integrada para problemas complexos como as zoonoses e a resistência antimicrobiana, que não respeitam as fronteiras tradicionais entre a medicina humana e a veterinária. Conforme salienta o médico veterinário Bernardo Soares, "formar um bom médico, um bom Médico-Veterinário ou um bom biólogo, hoje, implica também prepará-los para trabalhar com os outros". Esta visão sistémica, que ainda carece de maior implementação nos currículos académicos, é crucial para uma prevenção eficaz e uma resposta rápida a crises de saúde pública. A pertinência deste conceito é visível em exemplos práticos do dia a dia. Um dos artigos alerta para o facto de os animais de estimação poderem ser portadores de germes e bactérias, como *Salmonella* e *E. coli*, que podem ser transmitidos aos humanos. A recomendação de limpar as patas dos animais após os passeios e de higienizar regularmente as suas tigelas e brinquedos é uma aplicação direta dos princípios de "Saúde Única" no ambiente doméstico. Este cuidado preventivo ilustra perfeitamente como a saúde animal e a saúde humana estão intrinsecamente ligadas, demonstrando que a vigilância não se deve limitar aos consultórios ou laboratórios, mas estender-se aos lares onde a convivência entre espécies é uma realidade. A consciencialização pública sobre esta interdependência é, por isso, fundamental para proteger a saúde de toda a família, de duas e quatro patas.
O Conceito de "Saúde Única" e a Sua Relevância no Quotidiano
O conceito de "Saúde Única" (One Health), que interliga a saúde humana, animal e ambiental, ganha crescente relevância como um pilar para enfrentar os desafios globais. A sua aplicação prática manifesta-se no quotidiano, desde a prevenção de zoonoses à higiene doméstica, exigindo uma maior colaboração entre diferentes áreas do saber.

Artigos
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É uma noite escura e sombria no Grassmarket de Edimburgo, mas o ambiente no piso superior da Behive Inn é tudo menos triste. A sala aconchegante por cima do pub está à pinha, com filas de cadeiras desemparelhadas a chiar sob o peso de um público ansioso diante de um palco vazio. O ambiente é quente e caloroso, com um cheiro ténue a cerveja e casacos húmidos atirados para cima das cadeiras e o murmurinho de conversas animadas.Estou aqui para participar na Visita dos Pubs Literários de Edimburgo, um passeio nocturno pela vielas sinuosas e tabernas consagradas do Centro Histórico gótico que dão vida ao espantoso legado literário desta cidade. Edimburgo tornou-se a primeira Cidade da Literatura da UNESCO há 21 anos, para celebrar a abundância de escritores que aqui encontraram inspiração ao longo dos séculos. As vielas sombreadas alimentaram a imaginação de Robert Louis Stevenson e JK Rowling conjurou o mundo de bruxas e feiticeiros de Harry Potter nos cafés da cidade.Um homem com a cara redonda e um cantil de álcool na mão sobe para o palco. Apresenta-se como Clart – gíria escocesa para ‘lama’ – e declara que o pub com 400 anos no qual os encontramos foi, outrora, uma taberna barulhenta, um local de paragem para “serventes de estrebaria e soldados, amantes e advogados, poetas e prostitutas”. No século XVIII foi também um dos pousos preferidos do poeta mais acarinhado da Escócia, Robert Burns, acrescenta ele, dando outro golo do cantil. E é então que a discussão começa.“Está a transmitir uma ideia completamente errada”, grita um homem com óculos de aros grossos que se encontra ao fundo da sala. A multidão cala-se. Todos os olhos se viram para o homem, enquanto ele inicia uma defesa apaixonada de Burns, um génio literário, ouvimos nós, cuja poesia, prosa e preservação da língua escocesa o colocaram no panteão dos heróis nacionais da Escócia. Este homem pertencia aos salões da sociedade educada, não às tabernas desordeiras do centro histórico. “Não pode estar à espera de que esta boa gente acredite que estes bebedouros sujos frequentados por vagabundos tenham qualquer coisa a ver com os melhores escritores da sua época”, diz ele. Mas Clart sorri. Está sim. E vai prová-lo.Tanto Clart (nome real: Paul Murray) como o seu antagonista, Riley Stewart, são, evidentemente, actores – “divertidos, selectivos e completamente parciais”, como Paul admite com um sorriso quando saímos da Beehive Inn para as ruas empedradas, molhadas e escorregadias do Grassmarket. Durante quase sete séculos, esta praça acolheu um mercado movimentado. As forcas que aguardavam os criminosos também ficavam aqui. Actualmente, a praça é mais conhecida pelos seus pubs animados, à sombra do Castelo de Edimburgo, cujos holofotes que iluminam as muralhas fazem os chuviscos brilhar.Subimos Victoria Street, com o seu passeio empedrado e montras pintadas com cores vibrantes. Dizem que este emaranhado de cafés coloridos e lojas de artesanato inspirou Diagon Alley, a rua secreta do mundo de magia do Harry Potter. Daqui, desaparecemos através de uma arcaria em pedra estreita e subimos uma escada escondida que nos leva à Royal Mile de Edimburgo.Esta é a via principal do centro histórico, uma rua pavimentada com pedra e revestida por prédios medievais, pubs apinhados e imensas lojas de recordações. É uma das zonas turísticas mais movimentadas da cidade, sobretudo em Agosto, quando o Festival Fringe de Edimburgo atrai multidões. Em noites de Inverno como esta, porém, quando o frio aperta e a chuva se infiltra nas pedras da calçada, a cidade atrai os visitantes para dentro de portas para encontrar calor num whisky. Ou talvez numa boa história.Afastamo-nos da Royal Mile e entramos numa viela enfiada entre uma loja de doces e uma loja que vendetweed fabricado nas Hébridas. Paul diz-me que o centro histórico está cheio de ruelas como esta, um labirinto de passagens estreitas pelo meio de prédios, como marcadores de livros enfiados entre as páginas de um romance lido e relido. Afastam-nos das ruas principais de Edimburgo e levam-nos para pátios escondidos e recantos escuros, onde os pobres da cidade outrora viviam uns em cima dos outros. Paul explica que foi ali, em 1771, nas “passagens cheias de micróbios” do centro histórico, que nasceu um dos maiores escritores da Escócia.Na Jolly Judge, uma taberna antiga e movimentada no meio dos prédios, Paul e Riley contam como Sir Walter Scott ascendeu desde as suas origens humildes, não só para moldar as tradições literárias da Escócia, mas também a sua identidade cultural, desde o romance das Terras Altas enevoadas ao reavivar do tartan como símbolo de orgulho do legado escocês. “Ele também conseguia beber mais do que toda a gente”, acrescenta Paul com um sorriso. Posto isto, os nossos guias-actores retomam a sua discussão sobre aquilo que verdadeiramente inspirava os escritores mais aclamados da cidade – terão sido os grandes ideais do Iluminismo ou o alvoroço das tabernas? Dou um golo na minha cerveja e bebo-a toda de uma só vez.Depois de terminar a minha bebida, entramos noutra viela e damos por nós num pátio com um candeeiro em ferro forjado no meio. À nossa esquerda, encontra-se uma townhouse do século XVII, com a sua fachada em pedra lavrada manchada por séculos de fuligem e chuva. Em cima da porta, uma placa em madeira mostra uma figura dourada sentada numa secretária, de pena em punho, cujas letras proclamam The Writers’ Museum.O candeeiro lança uma luz suave sobre as lajes escorregadias e vejo uma inscrição gravada sob os meus pés: ‘Não existem estrelas tão belas como os candeeiros de Edimburgo’. Em baixo dela, um nome e uma data: Robert Louis Stevenson (1850-1894). Avançando ao longo do pátio, cada laje tem um nome diferente. William Dunbar. Dorothy Dunnett. Muriel Spark. “Bem-vindo a Makars’ Court”, diz Paul, em voz baixa. “Para se qualificar a ter o seu nome numa laje, são necessárias duas coisas. Ser um escritor escocês. E estar morto.”Sob a luz enevoada do candeeiro, os nossos guias contam a história de Dr Jekyll e Mr Hyde, da autoria de Stevenson, a história gótica na qual as experiências de um médico de renome libertam um alter-ego assassino que não ele consegue controlar. Diz-se frequentemente que Stevenson baseou a sua história em Deacon Brodie, um fabricante de armários do século XVIII e vereador respeitável da cidade durante o dia, que liderava gangues de bandidos em Auld Reekie à noite: “Um verdadeiro vilão com uma natureza dupla de Edimburgo”, diz Riley.Mas Paul apressa-se a realçar que a descrição inquietante de Stevenson sobre a dualidade do homem foi tão inspirada pela Edimburgo do seu tempo como por qualquer figura individual. Esta é uma cidade de contradições acentuadas, onde a grandiosidade encomendada da abastada Cidade Nova Georgiana se erguia ao lado do labiríntico centro histórico medieval.Foi aqui que a pobreza e o crime infectaram nas sombras e, por vezes, de forma bastante literal, sob a superfície.Em baixo da terraNa manhã seguinte, estou cinco níveis abaixo das ruas de Edimburgo, em baixo da South Bridge, no centro histórico, num mundo que esteve praticamente esquecido durante cem anos. As velas tremeluzem contra as paredes de pedra húmidas e sua luz projecta sombras inquietas no piso irregular. Mais à frente, o meu guia, Craig Collinson, traça uma rota pelas criptas estreitas, com o cabelo grisalho a cair sobre os ombros. “Há pessoas em Edimburgo que continuam sem saber que estes sítios existem”, diz-me, com o seu sotaque de Edimburgo a dar um tom caloroso ao frio das criptas.As Criptas Subterrâneas de Blair Street foram descobertas acidentalmente na década de 1980 pelo antigo jogador de rugby Norrie Rowan, enquanto este limpava detritos em baixo do seu pub. Desde então, a arqueologia montou uma história que nunca fora escrita: a descoberta de lamparinas a petróleo e cadinhos noutra câmara sugerem que poderia ser uma oficina subterrânea; noutra, pilhas de conchas de ostra e vidro de garrafa preto sugerem encontros de um clube boémio do século XVIII (do género que Robert Burns apreciava particularmente).Viro uma esquina apertada na passagem e baixo-me para passar sob um lintel de madeira velho, entrando na câmara seguinte, onde Craig nos aguarda. Estamos mesmo em baixo de South Bridge e não se ouve nem um burburinho do trânsito louco da rua. Depois, Craig corta o silêncio com uma história.“No início do século XIX, ladrões de sepulturas entravam nos kirkyards [cemitérios das igrejas] de Edimburgo, na calada da noite, para desenterrarem cadáveres recentes e os venderem à faculdade de medicina”, começa. “Mas dois homens foram mais longe. William Burke e William Hare fizeram um acordo com um certo Dr. Robert Knox, um anatomista da universidade, comprometendo-se a entregar-lhe 16 corpos. Assassinaram-nos todos. Craig deixa as palavras a pairar no ar. Depois acrescenta, calmamente: “precisavam de um sítio secreto, um sítio fresco para esconder os corpos durante alguns dias. É possível que estejamos agora nesse sítio.”Robert Louis Stevenson inspirou-se nesta história de fantasmas da vida real para escrever o seu conto O Ladrão de Cadáveres. “Ele estava fascinado por este contraste de luz e escuridão, com o facto de o bom Dr. Knox conseguir lidar com criminosos como Burke e Hare”, diz Craig. Dois anos mais tarde, Stevenson transporia esse mesmo fascínio pela dualidade humana para Dr. Jekyll e Mr. Hyde. “É uma metáfora da Edimburgo antiga, onde um verniz de respeitabilidade mascarava frequentemente todo o tipo de depravação.”Quando subimos das criptas, deparamo-nos com uma manhã fria e límpida. Os espigões escurecidos pela fuligem do centro histórico perfuram um céu sem nuvens, silhuetas austeras contra o brilho azul. Edimburgo sempre foi uma cidade de contrastes: de civilidade e pecado, grandiosidade e decadência, luz e sombra. O inspector Rebus de Ian Rankin deambula por uma cidade moderna, cuja fachada turística esconde um submundo próspero. Trainspotting, de Irvine Welsh, arrasta os leitores para longe do centro polido de Edimburgo para as ruas decadentes do porto de Leith. É esta dupla personalidade que incendeia a imaginação de autores desde Stevenson até aos dias de hoje.dicas extra1. Edimburgo tem imensos monumentos construídos em homenagem a grandes homens da literatura, mas as escritoras foram ignoradas durante muito tempo. Para uma perspectiva actualizada, pegue num exemplar de Where are the Women? A Guide to an Imagined Scotland, um guia que homenageia as suas mulheres esquecidas.2. O Festival Internacional de Literatura de Edimburgo é o sonho dos amantes de literatura, mas é realizado em Agosto, o mesmo mês em que decorre o Festival Fringe, e a época mais cara e agitada para visitar a cidade. Se quiser uma alternativa mais calma, experimente o Scottish International Storytelling Festival, em Outubro.3. A frondosa Stockbridge é o lar de algumas das melhores livrarias independentes de Edimburgo. A galardoada Golden Hare Books foi fundada por um antigo director do V&A, e a Rare Birds Book Shop é a única livraria da Escócia inteiramente dedicada a autoras femininas.4. Se for ao Castelo de Edimburgo, planeie a visita de modo a assistir ao disparo do One O’Clock Gun. Tradição desde 1861, continua a ser um espectáculo explosivo, que ocorre quase todos os dias. Reserve o seu bilhete com antecedência a fim de garantir a entrada.Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.

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