Esta situação reacende o debate sobre a coexistência entre humanos e predadores em territórios rurais fragilizados.
A falta de presas naturais, como javalis e corços, devido à destruição dos seus habitats pelos fogos, força os lobos a procurar fontes alternativas de alimento, aproximando-se perigosamente das explorações pecuárias. Nos últimos meses, o concelho de Miranda do Douro tem sido particularmente afetado, com múltiplos ataques que resultaram na morte de dezenas de ovinos, gerando um clima de medo e prejuízos económicos significativos para os pastores locais. Segundo Andrea Cortinhas, da Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Churra Mirandesa, “há muitos anos que não eram referenciados tantos ataques de lobos e a explicação pode estar nos estragos provocados pelos incêndios no ecossistema”. A técnica sublinha que os ataques são mais frequentes e violentos, e que as medidas de proteção tradicionais, como cães de gado e cercas, têm-se revelado insuficientes.
Por outro lado, o biólogo José Pereira, da associação Palombar, acrescenta que, embora os lobos sejam territoriais, a fome obriga-os a percorrer maiores distâncias.
Pereira sugere também que a perda de práticas de pastoreio tradicionais e a possível formação de novas alcateias em territórios abandonados podem estar a contribuir para o problema. A situação evidencia as consequências ecológicas em cascata dos incêndios florestais e a necessidade urgente de encontrar “soluções para uma coexistência pacífica entre o homem e o lobo”, que passem pela gestão do habitat, apoio aos produtores e estratégias de prevenção de conflitos.