Os incêndios florestais são apontados como um fator que agrava o conflito, ao destruir o habitat e as presas naturais do lobo-ibérico. O conflito entre a conservação do lobo-ibérico e as atividades pastoris no Planalto Mirandês tem-se agravado, com o registo de 32 ataques a gado desde 2024, segundo dados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Os produtores locais, que enfrentam perdas económicas consideráveis, mostram-se cada vez mais apreensivos, especialmente após recentes incidentes no concelho de Miranda do Douro, onde dezenas de ovinos foram mortos.
A produtora Patrícia Antão relatou um ataque que resultou "na morte de 10 ovelhas e ferimentos graves noutros 12 animais".
A situação é complexa e multifatorial, mas os incêndios florestais deste verão são apontados como um dos principais catalisadores.
O investigador Francisco Álvares, do CIBIO-Inbio, alerta que as chamas afetaram mais de 60% do território de várias alcateias, incluindo locais de reprodução, o que diminui a disponibilidade de presas naturais como o corço e o veado, forçando os lobos a procurar alimento junto dos rebanhos. Esta espécie, com estatuto de "em perigo" em Portugal, conta com cerca de 300 indivíduos e é protegida por lei. Em resposta, o Governo apresentou o "Programa Alcateia 2025-2035", que prevê a revisão das indemnizações por ataques, aproximando-as dos valores de mercado, e apoia medidas de proteção como o uso de cães de gado. O caso ilustra o desafio de equilibrar a proteção de uma espécie prioritária com a sustentabilidade económica das comunidades rurais, uma tensão que exige políticas públicas eficazes e uma gestão integrada do território.