Este fenómeno sugere uma crescente personalização da política local, onde a influência individual e as dinâmicas territoriais por vezes se sobrepõem às lealdades e estruturas partidárias tradicionais.
Um dos casos mais emblemáticos ocorre em Setúbal, um bastião histórico da CDU, onde a ex-presidente da câmara, Maria das Dores Meira, se candidata como independente com o apoio do PSD, desafiando diretamente o seu antigo partido. Em Felgueiras, o Chega recrutou Eduardo Teixeira, um ex-deputado municipal do PSD, para encabeçar a sua lista. Em Alvito, o candidato do Chega é André Reis, um ex-militante do CDS-PP e atual vereador independente em Belmonte. A fragmentação é também visível em municípios mais pequenos, como em Aguçadoura (Póvoa de Varzim), onde o atual presidente de junta do PSD, Fernando Rosa, é o mandatário de uma lista independente liderada por uma ex-militante do PSD, Virgínia Torres, que concorre contra o candidato oficial do seu antigo partido. Em Óbidos, o ex-vice-presidente José Pereira, eleito como independente nas listas do PSD, também se prepara para uma candidatura própria após a rutura com o atual presidente.
Esta tendência de desfiliações, formação de movimentos independentes e transferências entre partidos, especialmente da direita tradicional para o Chega, revela um reajustamento do xadrez político local e a importância crescente das figuras individuais na mobilização do eleitorado.