A técnica, legalizada no Reino Unido desde 2015, foi desenvolvida para impedir a transmissão de doenças mitocondriais, condições genéticas graves e frequentemente fatais que são herdadas exclusivamente da mãe e afetam órgãos vitais como o cérebro, o coração e os músculos. O procedimento, denominado transferência pronuclear, consiste em combinar o ADN nuclear dos pais com o ADN mitocondrial saudável de uma dadora. O embrião resultante possui cerca de 99,9% do material genético dos pais biológicos e apenas 0,1% da dadora, confinado às mitocôndrias, as estruturas celulares responsáveis pela produção de energia. Os resultados dos primeiros 22 tratamentos são animadores: dos oito bebés nascidos, seis apresentaram uma redução de 95% a 100% na carga de mutações mitocondriais, e todos se encontram a desenvolver-se normalmente. Este sucesso representa a primeira evidência clínica de que a tecnologia pode efetivamente levar ao nascimento de crianças livres de doenças mitocondriais devastadoras. Apesar do seu potencial terapêutico, a abordagem continua a suscitar um intenso debate ético. Críticos receiam que a técnica abra caminho para modificações genéticas com fins não terapêuticos, vulgarmente designadas como "engenharia de bebés". Contudo, os cientistas envolvidos no estudo sublinham que a intervenção é altamente específica e visa exclusivamente a prevenção de doenças graves, não alterando características hereditárias contidas no ADN nuclear.
