O estudo revela que o fumo afeta não só os pulmões, mas uma vasta gama de tecidos, desde o pâncreas ao cérebro. Através de uma “análise molecular multi tecidos e multi-ómica” de 46 tecidos humanos distintos, provenientes de mais de 700 indivíduos, os investigadores identificaram os mecanismos pelos quais o tabaco imita e acelera o processo de envelhecimento. Os resultados mostram que o fumo desencadeia uma inflamação sistémica e provoca alterações epigenéticas profundas, nomeadamente a hipermetilação do ADN, um fenómeno associado ao desenvolvimento de cancro.

Os fumadores desenvolvem perfis epigenéticos semelhantes aos de pessoas mais velhas, indicando um envelhecimento biológico prematuro.

Uma das conclusões mais impactantes do estudo é a distinção entre os danos reversíveis e irreversíveis após a cessação tabágica.

Segundo o investigador Rogério Ribeiro, as alterações que não revertem são precisamente aquelas que se sobrepõem às assinaturas moleculares do envelhecimento natural. “Identificamos alterações moleculares induzidas pelo tabaco que não são reversíveis após a cessação.

Essas são especialmente as que sobrepõem a assinaturas de envelhecimento”, destaca o autor. Esta descoberta sublinha que, embora deixar de fumar traga enormes benefícios, parte do dano a nível celular, que mimetiza o envelhecimento, pode ser permanente.

O trabalho abre portas para o desenvolvimento de biomarcadores que permitam avaliações de risco personalizadas e novas intervenções para mitigar os danos.