O estudo aponta para um novo alvo terapêutico, focado não na suplementação, mas no transporte da vitamina para dentro das células. A investigação, publicada na revista científica Redox Biology, revelou que durante o envelhecimento e em patologias como a Doença de Alzheimer, os níveis de vitamina C no cérebro diminuem e não conseguem ser repostos adequadamente, mesmo com suplementação. O problema reside na maquinaria de transporte da vitamina para o interior das células da microglia, o sistema imunitário do cérebro. A vitamina C, na forma de ascorbato, é captada por um transportador específico, o SVCT2.

A equipa do i3S demonstrou, em modelos pré-clínicos, que ao restaurar a concentração de vitamina C dentro da microglia, através do aumento da expressão deste transportador, era possível restabelecer o funcionamento normal destas células.

Segundo Camila Portugal, primeira autora do estudo, esta abordagem foi suficiente "não só para atrasar o início da doença, mas também para atrasar a progressão da doença quando esta já começou a manifestar-se".

João Relvas, líder do grupo de investigação, sublinhou que a descoberta crucial é que "é a captação e não a suplementação da vitamina C que é crítica".

O transportador SVCT2 é agora considerado um alvo terapêutico promissor.

A equipa está a avaliar milhares de compostos farmacológicos com o objetivo de encontrar uma molécula que aumente a captação de vitamina C pela microglia, o que poderia conferir proteção contra a doença. Esta abordagem poderá ser transposta para outras doenças neurodegenerativas, como a Doença de Parkinson, onde a diminuição do transporte de vitamina C também parece estar associada à neuroinflamação.