A investigação, publicada na revista *Conservation Letters*, alerta que a exclusão de idiomas falados em regiões de elevada riqueza natural compromete a eficácia das metas de conservação. Realizado por cientistas portugueses e uma bióloga brasileira, o estudo analisou a distribuição de milhares de espécies da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e cruzou esses dados com as línguas faladas nos países onde ocorrem. Os resultados mostram que, embora o inglês e o espanhol cubram áreas com cerca de 25% da biodiversidade do planeta, o português, o francês e o malaio surgem logo a seguir, com cerca de 10% cada. No entanto, ao contrário do francês, o português e o malaio não têm estatuto oficial nos tratados internacionais, apesar de superarem a importância de outras línguas oficiais como o russo ou o chinês nesta matéria.
Este desfasamento linguístico coloca em desvantagem comunidades, técnicos e investigadores de países lusófonos com elevada diversidade, como Brasil, Angola e Moçambique, dificultando o seu acesso a documentos científicos e políticos cruciais.
A investigadora Maria Dias destaca que "a língua portuguesa sobressai no panorama da biodiversidade internacional, não só por se falar em países muito ricos do ponto de vista natural, mas também porque engloba regiões geográficas muito distintas".
Para ultrapassar este desafio, os autores propõem um sistema de quatro níveis de prioridade linguística e recomendam soluções híbridas que combinem tradução automática com revisão especializada.
Nas palavras do investigador Diogo Veríssimo, dar espaço a estes "'idiomas da vida' (...) é uma condição essencial para mobilizar comunidades e países que estão na linha da frente da conservação".













