A descoberta revela um diálogo molecular complexo que pode ser crucial para o tratamento de doenças inflamatórias, infeções e cancro.

O estudo, publicado na revista Nature Immunology, desvenda o papel do sistema nervoso entérico, por vezes designado como “segundo cérebro”, como maestro da resposta imunitária.

A equipa, liderada por Henrique Veiga-Fernandes, identificou em modelos murinos uma comunicação tripartida entre os neurónios intestinais, as células epiteliais que revestem o intestino e as células imunitárias.

Este diálogo funciona como um sistema de “agulhas em carris”, direcionando a resposta imunitária para um de dois caminhos: o de ataque, para eliminar bactérias ou células tumorais, ou o de reparação, para regenerar o tecido. A decisão é tomada através de recetores específicos nos neurónios que, ao detetar um sinal, emitem instruções que alteram o comportamento das células epiteliais vizinhas.

Estas, por sua vez, libertam moléculas mensageiras que atuam sobre as células imunitárias, orientando a sua função.

“O intestino está longe de ser um mero tubo digestivo.

É um palco de atividade frenética onde os sistemas nervoso e imunitário negociam constantemente”, contextualiza Veiga-Fernandes. A relevância da descoberta é amplificada pelo facto de o mesmo sistema de recetores estar presente em seres humanos, o que sugere que a manipulação deste eixo de comunicação neuro-imune poderá abrir portas a novas abordagens terapêuticas para um vasto leque de patologias.