Um estudo internacional baseado em ADN antigo reescreve a história da domesticação do gato, revelando que a sua chegada à Europa ocorreu apenas há cerca de dois mil anos. A investigação contraria a teoria de que os felinos acompanharam os primeiros agricultores do Crescente Fértil, apontando o Norte de África como o verdadeiro berço do gato doméstico. A investigação, publicada na revista Science, analisou 87 genomas de gatos, dos quais 70 provinham de restos arqueológicos com até 10.000 anos. Os dados genéticos mostraram de forma clara que os gatos domésticos modernos descendem de uma subespécie específica, o gato-bravo-africano (Felis lybica lybica), presente no Norte de África e no Médio Oriente. Até agora, a crença dominante era que a domesticação teria começado no Levante há cerca de 6.000 anos, associada ao desenvolvimento da agricultura.
No entanto, os novos resultados indicam que os felinos encontrados em sítios arqueológicos europeus mais antigos eram, na verdade, gatos-bravos europeus e não animais domesticados.
A introdução do gato doméstico de origem africana na Europa foi um fenómeno posterior e rápido, que acompanhou em grande parte a expansão militar e comercial do Império Romano, alcançando a Grã-Bretanha já no século I d.C. O biólogo evolutivo Jonathan Losos, em comentário na mesma revista, sublinha que estas descobertas fazem parte de um esforço contínuo para desvendar os mistérios da domesticação felina. “Sempre enigmáticos, os gatos revelam os seus segredos com relutância”, escreve, destacando a complexidade de uma história que agora ganha um novo e importante capítulo.
Em resumoA análise genética de gatos antigos e modernos demonstra que a sua domesticação teve origem no Norte de África e a sua disseminação pela Europa foi um fenómeno relativamente recente, associado à expansão romana. Esta descoberta altera fundamentalmente a cronologia da relação entre humanos e gatos domésticos.