A Península de Setúbal enfrentou um encerramento inesperado e total dos serviços de urgência de Obstetrícia e Ginecologia durante o fim de semana, gerando uma crise na saúde local e fortes críticas à gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS). A situação, que obrigou ao reencaminhamento de todas as utentes para hospitais em Lisboa, expôs a fragilidade do sistema e a sua dependência de médicos prestadores de serviços. A crise foi despoletada pela indisponibilidade de última hora dos médicos tarefeiros que asseguravam as escalas no Hospital Garcia de Orta, em Almada, a única unidade da região que deveria permanecer aberta, uma vez que os hospitais do Barreiro e de Setúbal já tinham encerramentos programados. O Ministério da Saúde atribuiu a responsabilidade a estes profissionais, afirmando que a sua indisponibilidade surgiu “sem que nada o fizesse prever” e associando o episódio a nova legislação que visa “acabar com injustiças e com os privilégios de alguns tarefeiros”.
Esta posição gerou uma onda de contestação. O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, classificou o sucedido como uma “falha de planeamento grave” por parte da tutela e da Direção Executiva do SNS (DE-SNS), defendendo a necessidade de um “plano de reserva” para uma região com mais de 800 mil habitantes. Cortes acrescentou que, caso se verifique uma falha deontológica dos médicos, a Ordem deverá ser informada.
A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) também culpou o Governo, enquanto partidos como o Livre e o Bloco de Esquerda exigiram explicações da ministra da Saúde no parlamento.
A situação agrava-se pelo facto de a ministra Ana Paula Martins ter garantido, em julho, que a urgência de Almada estaria a funcionar em pleno a partir de setembro.
Em resumoO encerramento súbito das urgências de obstetrícia na Margem Sul, devido à indisponibilidade de médicos tarefeiros, expôs a fragilidade do SNS na região. A crise gerou críticas contundentes da Ordem dos Médicos e de partidos da oposição, que apontaram falhas de planeamento por parte da tutela, enquanto o Ministério da Saúde responsabilizou os prestadores de serviços. O incidente sublinha a dependência do SNS de médicos contratados e a urgência de encontrar soluções estruturais para garantir o acesso a cuidados de saúde essenciais.