Só no concelho de Miranda do Douro, foram registados múltiplos ataques nas últimas semanas, resultando na morte de dezenas de animais e deixando as comunidades locais em estado de alerta.

Especialistas apontam os incêndios como a causa principal para esta alteração de comportamento, uma vez que a destruição do ecossistema reduz drasticamente as presas selvagens, forçando o lobo a procurar alimento junto das explorações pecuárias. Andrea Cortinhas, secretária técnica da Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Churra Mirandesa, afirmou à agência Lusa que “o lobo só ataca quando há falta de alimento e quando tem fome”. A técnica explicou que “há muitos anos que não eram referenciados tantos ataques de lobos e a explicação pode estar nos estragos provocados pelos incêndios”. Os ataques têm ocorrido de forma consecutiva nas localidades de Malhadas, Fonte Ladrão e Genísio, assustando os pastores, que veem as suas medidas de proteção, como cães de gado e cercas, a serem ultrapassadas. O biólogo José Pereira, presidente da associação Palombar, acrescenta outras possíveis causas, como o desaparecimento de alcateias históricas e a ocupação de territórios por novos indivíduos, bem como a perda de “formas tradicionais de maneio dos rebanhos, como pastor presentes”.

Ambos os especialistas concordam que é crucial encontrar soluções para uma coexistência pacífica entre o homem e o lobo, um desafio para o qual o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) ainda não apresentou resposta.