Uma crise aguda nas urgências de obstetrícia e ginecologia afetou toda a Península de Setúbal, culminando no encerramento simultâneo dos serviços nos hospitais Garcia de Orta (Almada), Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) e São Bernardo (Setúbal) durante o fim de semana. A situação, descrita como “muito preocupante” e “inadmissível” pela Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, expôs a profunda fragilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na região e a sua perigosa dependência de médicos prestadores de serviços, conhecidos como “tarefeiros”. O colapso ocorreu depois de os médicos tarefeiros, que asseguravam as escalas, terem manifestado a sua “indisponibilidade à última hora”, deixando a região sem qualquer resposta pública para grávidas, que tiveram de ser encaminhadas para hospitais em Lisboa. A ministra admitiu que o plano para reforçar o Hospital Garcia de Orta com sete novos médicos, anunciado em julho, falhou, uma vez que apenas uma pequena parte das contratações se concretizou.
A situação gerou fortes críticas por parte de autarcas e comissões de utentes. Inês de Medeiros, presidente da Câmara de Almada, acusou o Governo de abandonar o plano da anterior direção executiva do SNS sem apresentar uma “alternativa fiável”. As comissões de utentes de Almada e do Seixal consideraram a situação “preocupante mas não imprevisível”, atribuindo-a a uma estratégia de “esvaziamento do SNS”.
Em resposta, a ministra da Saúde reuniu-se com os administradores das três unidades locais de saúde e prometeu anunciar “brevemente” novas decisões, bem como nova legislação até ao final do ano para atrair e fixar médicos no SNS, pondo fim à precariedade e às desigualdades salariais.
Em resumoO encerramento total das urgências de obstetrícia na Península de Setúbal é um sintoma alarmante da crise estrutural do SNS, marcada pela falta de profissionais e pela excessiva dependência de tarefeiros. O episódio forçou o Governo a reconhecer a falha do seu plano de emergência e a prometer reformas, mas deixou um rasto de insegurança entre a população e a urgência de encontrar soluções sustentáveis para garantir o acesso a cuidados de saúde essenciais.