Este uso excessivo alimenta a crise da resistência antimicrobiana, responsável por 35 mil mortes anuais na Europa.

Dados divulgados pelo Infarmed revelam uma tendência preocupante: o consumo global de antibióticos em Portugal cresceu 8% entre 2019 e 2024, um valor quatro vezes superior à média de 2% registada na UE. Atualmente, o país regista um consumo de 19 doses diárias por cada 1.000 habitantes. Em números absolutos, a dispensa de embalagens subiu de cerca de 8 milhões em 2022 para mais de 9,4 milhões em 2024, com a tendência de aumento a manter-se. Esta situação constitui um grave problema de saúde pública, pois o uso inadequado e excessivo de antibióticos é o principal motor da resistência antimicrobiana. O Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) adverte que esta resistência já causa mais de 35 mil mortes por ano na Europa e que o continente “não está no bom caminho” para atingir as metas de redução estabelecidas para 2030. O médico infecciologista Hélder Pinheiro alertou que o consumo inadequado pode “fazer-nos recuar algumas décadas naquilo que foi a evolução da medicina”, chegando ao ponto de se tornar impossível tratar infeções banais.

A diretora do ECDC, Pamela Rendi-Wagner, sublinhou a necessidade de “ações enérgicas” para o uso responsável de antibióticos.

Perante este cenário, o Infarmed estabeleceu como meta para Portugal uma redução de 9% no consumo total até 2030, face a 2019.