O Ministério da Saúde está a preparar um projeto de decreto-lei que visa restringir o recurso a médicos prestadores de serviços, conhecidos como “tarefeiros”, no Serviço Nacional de Saúde (SNS). A medida proíbe a contratação, nesta modalidade, de recém-especialistas que recusem um contrato com o Estado e de médicos que tenham rescindido o seu vínculo com o SNS nos últimos três anos, numa tentativa de travar a sangria de profissionais e os custos crescentes com serviços externos. A proposta surge num contexto de forte dependência dos hospitais públicos em relação aos tarefeiros para assegurar o funcionamento das urgências, com a despesa a ultrapassar os 213 milhões de euros em 2024.
O Governo pretende, com esta “norma de incompatibilidades”, incentivar a celebração de contratos estáveis e combater o que considera ser uma concorrência desleal dentro do próprio sistema.
No entanto, a medida gerou reações imediatas por parte de vários setores.
Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), alertou que a abordagem não deve ser apenas punitiva. “A discussão sobre o novo diploma não deve estar focada na proibição de contratação, mas sim no incentivo à contratação”, defendeu, acrescentando que é crucial criar “um Serviço Nacional de Saúde mais atrativo, com melhores contratos e perspetivas de desenvolvimento profissional”. Sindicatos e a Ordem dos Médicos ecoaram estas preocupações, acusando o Ministério da Saúde de não apostar na valorização das carreiras e de optar por uma lógica de “castigo”. A eficácia da medida dependerá, assim, de ser acompanhada por um reforço das condições oferecidas aos médicos para permanecerem no SNS.
Em resumoO Governo propôs um decreto-lei para impedir que médicos que recusem contratos com o SNS possam ser contratados como prestadores de serviços, visando reter profissionais e controlar custos. A medida foi criticada por administradores hospitalares e sindicatos, que defendem que o foco deveria ser a melhoria das condições de trabalho e das carreiras no SNS para o tornar mais atrativo, em vez de aplicar proibições.