A crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS) atingiu um novo patamar de gravidade com o encerramento simultâneo de todas as urgências de obstetrícia e ginecologia na Península de Setúbal durante o fim de semana. A situação, que deixou uma população de quase 800 mil habitantes sem resposta local, expôs a excessiva dependência do SNS de médicos prestadores de serviços e motivou fortes críticas ao Governo. O colapso dos serviços na região ocorreu após o Hospital Garcia de Orta, em Almada, que era a única unidade a assegurar o atendimento a grávidas, ter encerrado a sua urgência por indisponibilidade de última hora dos médicos tarefeiros que compunham a escala.
A Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, reconheceu que o plano para reforçar as equipas com sete novos obstetras oriundos do setor privado falhou, uma vez que apenas quatro foram contratados.
A governante prometeu nova legislação até ao final do ano para regular a prestação de serviços e valorizar os profissionais do SNS.
A situação gerou uma onda de indignação política. Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, classificou a situação como uma “escandalosa intermitência de urgências abertas e urgências fechadas” que põe vidas em risco.
José Luís Carneiro, líder do PS, considerou o episódio um exemplo do “fracasso completo” do Governo na área da saúde. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no 46.º aniversário do SNS, defendeu-o como um “pilar fundamental” da democracia, mas reconheceu as suas “fragilidades e desafios”.
Em resumoO encerramento total das urgências de obstetrícia na Península de Setúbal evidenciou a fragilidade estrutural do SNS, nomeadamente a sua dependência de médicos tarefeiros. O episódio desencadeou uma crise política, com a oposição a acusar o Governo de inação e a Ministra da Saúde a admitir o falhanço de planos anteriores, prometendo reformas legislativas para estabilizar o serviço.