A obra transcende a simples adaptação, posicionando-se como um dos mais relevantes exercícios de cinema nacional dos últimos anos. A narrativa mergulha na Lisboa do início dos anos 60, em pleno regime ditatorial, centrando-se na história de amor e engano entre Cecília (Júlia Palha), uma estudante de Arquitetura, e Daniel (Francisco Froes), um médico oposicionista. Em pano de fundo, a repressão da PIDE, a censura e a revolta estudantil conferem uma atmosfera de opressão e perigo constante. Mário Barroso, que também assume a direção de fotografia, capta com mestria a beleza sombria de uma cidade vigiada, onde amar era um ato de resistência.

O elenco, que inclui Nuno Lopes e Diogo Infante, entrega interpretações elogiadas, com destaque para Júlia Palha, que encarna uma personagem enigmática e sedutora.

O filme é fiel ao espírito de Cardoso Pires, com os seus diálogos cortantes e a sua ironia ácida.

Num tempo de revisionismos históricos, "Lavagante" funciona como uma "lição de memória", lembrando o preço da liberdade e a complexidade das relações humanas sob uma ditadura.

É um filme descrito como duro, elegante e necessário, que une literatura, história e emoção sem cair no panfleto.