O filme, protagonizado por Wagner Moura, estreou em Portugal a 6 de novembro, gerando grande expectativa após a sua passagem por Cannes.
A obra distancia-se das representações convencionais da ditadura brasileira, optando por uma abordagem subtil e claustrofóbica da opressão.
Em vez de tortura explícita ou discursos inflamados, o realizador constrói uma atmosfera de medo através do "silêncio, medo e paredes com ouvidos", tornando o peso invisível da repressão ainda mais aterrador.
Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor universitário forçado a fugir para Recife, encarnando não um herói clássico, mas um "homem encurralado, permanentemente no limbo entre a fuga e a paralisia".
A minuciosa reconstituição histórica do Recife dos anos 70 serve de pano de fundo para uma narrativa que mistura thriller político com uma ironia quase cómica, explorando mitos urbanos e a paranoia coletiva.
O filme estabelece um diálogo entre o passado e o presente, sugerindo como "a sombra se estende até hoje, como as técnicas de vigilância, intimidação e corrupção são mais recicladas do que abolidas".
O próprio Wagner Moura reforça esta ideia, afirmando que "o Brasil sabe o que é uma ditadura".
A crítica elogia a obra como ambiciosa e romanesca, um cinema que exige paciência mas recompensa com camadas de significado, consolidando Kleber Mendonça Filho como um dos grandes cineastas contemporâneos.













