Realizado pelo brasileiro Daniel Rezende, conhecido pelo seu trabalho como montador em “Cidade de Deus”, e protagonizado por Rodrigo Santoro, o filme era aguardado com grande expectativa. A narrativa centra-se em Crisóstomo (Santoro), um pescador solitário de quarenta anos que anseia por ter um filho, e em como a sua vida se transforma ao encontrar um jovem órfão.

A partir deste encontro, forma-se uma família atípica, composta por outras personagens marginalizadas pela sociedade.

A crítica destaca a escolha do realizador em traduzir a prosa densa de Valter Hugo Mãe para uma linguagem visual muito cuidada, por vezes descrita como “bonita demais”, com uma cinematografia que transforma a paisagem costeira num reflexo do estado de espírito das personagens.

Embora o ritmo inicial seja lento, o filme é elogiado pela forma como aborda o afeto masculino e a construção de laços familiares fora das normas convencionais, sem cair em estereótipos ou moralismos.

Uma análise descreve o filme como “irregular”, mas com “um coração teimoso no sítio certo”, sublinhando que, num mundo cínico, uma produção popular que acredita na bondade sem ser ingénua é um “meio milagre”. A adaptação representa um importante cruzamento cultural, unindo um realizador brasileiro de renome a uma das obras mais emblemáticas da literatura portuguesa contemporânea.