A primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira, “Aniki-Bobó”, regressa esta semana às salas de cinema numa versão restaurada em 4K. A reestreia do clássico de 1942, após um percurso por festivais internacionais, celebra o seu legado e oferece a uma nova geração a oportunidade de o ver no grande ecrã. Considerado um marco do cinema português, “Aniki-Bobó” foi alvo de um novo restauro pela Cinemateca Portuguesa, um trabalho que permitiu a sua exibição em alguns dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo, como Veneza, Toronto e San Sebastián, antes do seu regresso ao circuito comercial em Portugal. O filme, inspirado no conto “Meninos milionários” de Rodrigues de Freitas, foi rodado na zona ribeirinha do Porto e protagonizado por um elenco de crianças.
A sua narrativa explora o universo infantil como uma “reprodução do mundo real dos homens”, abordando temas como o bem e o mal, o amor e o ódio.
Na sua estreia, em 1942, a obra foi recebida com controvérsia, sendo considerada “imoral e subversiva” pelo regime salazarista.
Esta receção negativa teve consequências profundas na carreira do realizador, que, por causa dela, “teve de esperar quase vinte anos para voltar a fazer cinema”, com os seus projetos a serem sucessivamente recusados. O regresso de “Aniki-Bobó” às salas, precisamente 83 anos após a sua primeira exibição, não só permite redescobrir uma obra fundamental, mas também contextualizar a sua importância histórica e a coragem artística de Manoel de Oliveira, um cineasta que viveu mais de um século e acompanhou a própria história do cinema.
Em resumoA reestreia da versão restaurada de “Aniki-Bobó” não só preserva uma obra-prima do cinema português, como também reafirma a visão duradoura e outrora controversa de Manoel de Oliveira, consolidando o seu lugar na história do cinema mundial.