Dezenas de milhares de judeus ultraortodoxos manifestaram-se em Jerusalém contra os planos do governo de os incorporar nas Forças Armadas, gerando uma crise política e social em Israel. Os protestos, que chegaram a bloquear as entradas da cidade, evidenciam a profunda divisão na sociedade israelita sobre o serviço militar obrigatório para a comunidade Haredi, especialmente em tempo de guerra. A questão remonta a um acordo de 1948 que isentava estudantes de ‘yeshivas’ (escolas religiosas) do serviço militar, um privilégio que se expandiu ao longo das décadas. No entanto, em junho de 2023, as cláusulas de isenção expiraram e, um ano depois, o Supremo Tribunal tornou o recrutamento obrigatório. A necessidade de mais 12.000 efetivos para as forças armadas, devido aos conflitos em Gaza, Líbano e outras frentes, tornou a questão incontornável.
Desde junho de 2024, dos cerca de 78.000 estudantes ultraortodoxos convocados, apenas 3.438 se apresentaram. Os protestos, como a ‘Marcha de Um Milhão de Pessoas’, refletem a oposição feroz de parte da comunidade, cujos rabinos temem que o serviço militar afaste os jovens da fé. A crise tem também um forte impacto político, com os partidos ultraortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Tora, essenciais para a coligação de Netanyahu, a ameaçarem abandonar o governo.
A situação alimenta o ressentimento entre os israelitas seculares, que veem os seus familiares mobilizados para o combate enquanto uma parte da população permanece isenta.
Em resumoA obrigatoriedade do serviço militar para os judeus ultraortodoxos tornou-se um ponto de rutura na sociedade israelita. Os protestos em massa refletem uma profunda clivagem cultural e religiosa, ao mesmo tempo que a questão ameaça a estabilidade do governo de Netanyahu e gera ressentimento numa altura em que o país enfrenta múltiplas frentes de conflito.