Esta divergência estratégica define dois caminhos distintos para a tecnologia de pagamentos e a soberania monetária.\n\nO cenário global das moedas digitais está a ser moldado por duas visões geopolíticas antagónicas, prenunciando uma possível bifurcação do sistema monetário internacional.
De um lado, os Estados Unidos, sob a administração Trump, promovem um modelo de “criptomercantilismo”, que incentiva o desenvolvimento de “stablecoins” privadas indexadas ao dólar. Esta abordagem, formalizada pela lei “Genius”, visa reforçar a hegemonia do dólar, uma vez que as empresas emissoras de stablecoins investem as suas reservas em títulos do Tesouro americano. No entanto, este modelo acarreta riscos significativos, pois estas entidades operam como “bancos sombra”, sem as salvaguardas tradicionais como o seguro de depósitos, o que poderia desencadear crises de liquidez e instabilidade sistémica em caso de falha de um grande emissor. Em contraste, a China optou por um controlo estatal rigoroso, desenvolvendo a sua própria Moeda Digital de Banco Central (MDBC), o e-yuan (e-CNY). Este projeto, já em fase de implementação avançada com 180 milhões de utilizadores, oferece ao Estado a capacidade de rastrear todas as transações, levantando sérias preocupações sobre privacidade e vigilância em massa.
O Banco Central chinês pode tecnicamente monitorizar, controlar e até bloquear as carteiras digitais dos cidadãos.
Esta divergência estratégica coloca o mundo perante uma escolha fundamental: um sistema financeiro digital impulsionado pela inovação do mercado privado, com os seus riscos de instabilidade, ou um modelo estatal centralizado que garante controlo, mas sacrifica a privacidade individual.