Esta situação ameaça transformar o ensino superior num privilégio, reproduzindo desigualdades sociais em vez de funcionar como um elevador social.

A dificuldade de acesso à habitação para estudantes tornou-se um dos maiores entraves ao prosseguimento de estudos superiores para quem precisa de se deslocar.

Segundo dados do Observatório do Alojamento Estudantil, um quarto em Lisboa custa, em média, 500 euros mensais, um valor que desce para 400 euros no Porto e 380 euros em Faro. Estes preços representam um aumento significativo face a anos anteriores, com o preço médio nacional a subir 33% desde 2022 para 416 euros.

A oferta é drasticamente inferior à procura; em Lisboa, por exemplo, existem cerca de 50.000 estudantes deslocados, mas o Observatório contabilizava pouco mais de 2.600 quartos disponíveis. A escassez leva a que muitos jovens iniciem a procura de casa com sete ou oito meses de antecedência, antes mesmo de saberem os resultados das colocações. As federações académicas de Lisboa (FAL) e do Porto (FAP) alertam que a situação asfixia financeiramente as famílias de classe média, que não beneficiam de apoios como o complemento de alojamento, destinado a bolseiros.

O presidente da FAP, Francisco Porto Fernandes, afirma que o ensino superior está a tornar-se um “reprodutor das desigualdades preexistentes, porque quem tem menos não consegue sobreviver no sistema”.

O Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, que prevê 19.000 camas contratualizadas, é considerado insuficiente para responder às necessidades do país.