A dinâmica do mercado, marcada por um segmento de luxo em alta e uma crescente dificuldade de acesso para a classe média, evidencia um desequilíbrio estrutural entre os rendimentos e o custo de vida. De acordo com dados da inflação analisados pelo Jornal de Negócios, as rendas deverão sofrer um aumento de até 2,2% em 2026. Na prática, uma renda de 1.000 euros poderá sofrer um acréscimo de 22 euros mensais, totalizando mais 264 euros por ano.

Esta subida contínua penaliza os inquilinos num mercado onde a oferta para arrendamento acessível é escassa.

Em simultâneo, o mercado de compra e venda exibe uma forte dualidade. Por um lado, o segmento de luxo prospera, com projetos na Comporta onde "não há empreendimento que se venda [...] por menos de 8000 euros" o metro quadrado e mansões que atingem os 27 milhões de euros. A rua mais cara do país, na Quinta do Lago, apresenta um preço médio de 8,1 milhões de euros.

Por outro lado, para a maioria dos portugueses, a realidade é diferente.

Apesar de as famílias nacionais representarem 77,7% das transações no primeiro semestre de 2025, o preço médio dos imóveis vendidos pela Century 21 subiu para 236.874 euros, um valor que, segundo o CEO da empresa, evidencia o "desfasamento entre os rendimentos disponíveis e o preço das casas".

As consequências sociais são visíveis a nível local, como em Lagos, onde, segundo o vereador da CDU, Alexandre Nunes, a crise habitacional é a "maior preocupação" e já existem "1.590 agregados familiares" sem habitação.