A crise da habitação e a estagnação salarial ameaçam agravar este fenómeno social, que tem vindo a crescer de forma preocupante. De acordo com dados do final de 2023, perto de 4.000 mulheres vivem em condição de sem-abrigo, com uma concentração significativa na Área Metropolitana de Lisboa. A Cruz Vermelha Portuguesa confirma esta tendência, reportando um aumento de 126% no número total de pessoas apoiadas nos últimos dois anos, com a proporção de mulheres a aproximar-se da paridade. Testemunhos de mulheres que viveram na rua, como os de Maria e Margarida, revelam uma realidade de medo constante, particularmente de violação sexual, e a necessidade de desenvolver estratégias de sobrevivência, como procurar a proteção de companheiros, mesmo que isso acarrete novos riscos. A neuropsicóloga Cristiana Merendeiro, da associação CRESCER, destaca o perfil médio de mulheres entre os 40 e 45 anos com traumas significativos e saúde mental fragilizada.

A crise da habitação é apontada como um fator que agravará a situação, tornando mais difícil a saída da rua.

A resposta institucional é criticada por profissionais como Teresa Prata, da Comunidade Vida e Paz, que sublinha a vulnerabilidade acrescida das mulheres e contesta a separação frequente das mães dos seus filhos, uma prática com impactos traumáticos.