A crise de acessibilidade à habitação e as novas regras de acesso ao ensino superior tiveram um impacto desproporcional nos estudantes mais carenciados, resultando numa diminuição do seu número de ingressos em 2025. Este recuo representa um sério revés nas políticas de equidade social e expõe as fragilidades dos mecanismos de apoio existentes. Os dados da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso revelam que, este ano, foram colocados 1.548 estudantes beneficiários do escalão A de Ação Social Escolar (ASE), menos 107 do que em 2024. Destes, 1.123 entraram através do contingente prioritário criado em 2023 para alunos economicamente desfavorecidos, um número também inferior ao do ano anterior (menos 55).
Embora o contingente tenha permitido que 41% dos seus utilizadores entrassem em cursos para os quais, de outra forma, não teriam nota suficiente, a sua utilização continua a ser baixa.
A quebra geral no número de candidatos afetou todos os grupos, mas a barreira económica, amplificada pelos elevados custos do alojamento, é particularmente sentida por estas famílias.
Vários estudos já alertavam que o insucesso académico está fortemente associado à condição socioeconómica, e os números deste ano confirmam que os estudantes mais privilegiados continuam a dominar os cursos de acesso mais exigente. Em resposta, o Ministério da Educação reafirmou que as bolsas de estudo para os beneficiários até ao 3.º escalão serão antecipadas para a fase de colocação, numa tentativa de mitigar as dificuldades financeiras no início do ano letivo.
Em resumoA diminuição do número de alunos carenciados no ensino superior é um indicador preocupante do aprofundamento das desigualdades sociais em Portugal. A crise habitacional agrava a exclusão, tornando imperativo o reforço dos apoios sociais e a reavaliação de mecanismos como o contingente prioritário, para que o mérito académico não seja anulado por barreiras económicas.