O aumento contínuo dos preços da habitação em Portugal está a transformar-se numa crise social de grande escala, forçando um número crescente de cidadãos a abandonar os centros urbanos em busca de alternativas mais comportáveis nas periferias. Este fenómeno, descrito como um processo em que os preços estão "a empurrar as pessoas para fora das cidades", agrava os problemas de mobilidade e aprofunda as desigualdades sociais. A especialista em planeamento de transportes, Cecília Silva, identifica a dispersão urbana, agravada pelos preços da habitação, como um fator central por detrás dos problemas de congestionamento.
A necessidade de percorrer distâncias maiores diariamente aumenta a dependência do automóvel, num ciclo vicioso que degrada a qualidade de vida.
A situação é corroborada pelo candidato presidencial Gouveia e Melo, que classificou a habitação como um dos "problemas gravíssimos da sociedade portuguesa", capaz de "deslaçar" o tecido social. A crise não é recente, como aponta uma crónica que recorda a sua persistência desde antes do 25 de Abril, mas a intensidade atual, analisada pelo arquiteto Álvaro Ardura Urquiaga, coloca Portugal numa espiral de preços que, se não for controlada, poderá levar a uma queda "catastrófica" em caso de crise económica. O aumento das rendas é visível em todo o território, com cidades como Braga e Viana do Castelo a registarem subidas acentuadas, demonstrando que a pressão já não se limita apenas às grandes metrópoles de Lisboa e Porto.
Em resumoA escalada dos preços da habitação está a reconfigurar a geografia social de Portugal, promovendo um êxodo para as periferias que acarreta custos elevados em mobilidade e qualidade de vida. A crise, identificada como um dos problemas mais graves do país, exige uma intervenção estrutural para evitar o aprofundamento das desigualdades e o risco de uma futura correção abrupta do mercado.