O apoio extraordinário à renda, uma medida central do Governo para mitigar a crise habitacional, está a ser alvo de duras críticas por parte da Provedoria de Justiça. A entidade identificou “graves irregularidades” e uma “geral incapacidade de resposta”, pondo em causa a eficácia de um programa que, em muitos casos, agravou a situação económica dos beneficiários. Num ofício enviado à Secretária de Estado da Habitação, a Provedoria de Justiça pede uma “revisão urgente” do regime, que vigora até 2028, após receber cerca de um milhar de queixas entre maio de 2023 e julho de 2025. As reclamações aumentaram significativamente este ano, focando-se na suspensão e redução dos apoios, bem como na exigência de restituição de valores por parte da Segurança Social.
A Provedoria concluiu que o regime foi concebido sem acautelar “direitos e garantias fundamentais dos administrados”, como o direito à informação, à notificação das decisões e à audiência prévia.
Foi também detetada uma “insuficiente capacidade de articulação” entre as entidades responsáveis — Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), Autoridade Tributária (AT) e Instituto da Segurança Social (ISS).
Os problemas são agravados por “limitações das plataformas informáticas” e falta de recursos humanos, resultando numa “extrema morosidade” nos pagamentos. Os beneficiários queixam-se de um “indesejável itinerário de serviço em serviço” em busca de esclarecimentos. A Associação de Inquilinos Lisbonenses corrobora as críticas, afirmando que os problemas são uma realidade “desde o ano passado” e que o Governo parece estar “parado no tempo, à espera que os problemas se resolvam”.
Em alguns casos, as falhas do Estado levaram mesmo a um agravamento da situação socioeconómica das famílias que deveriam ser apoiadas.
Em resumoA Provedoria de Justiça exigiu uma revisão urgente do apoio extraordinário à renda devido a “graves irregularidades”, como suspensões indevidas, atrasos nos pagamentos e falta de articulação entre entidades. As falhas sistémicas têm violado os direitos dos cidadãos e, em alguns casos, piorado a sua situação financeira.