A aplicação do programa de habitação "1.º Direito", financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), revela um profundo desequilíbrio territorial na sua execução. Cerca de 60% das mais de 11 mil habitações entregues até julho de 2025 localizam-se no distrito de Lisboa, enquanto as regiões do interior do país recebem uma parte mínima dos apoios, levantando sérias questões sobre a política de coesão territorial. Os dados mostram uma concentração massiva dos recursos na capital, onde a crise habitacional é mais visível mediaticamente, mas negligencia as necessidades de outras regiões.
Distritos como Beja e Guarda, que enfrentam desafios de desertificação e envelhecimento populacional, receberam apenas "algumas dezenas de fogos".
Esta disparidade na distribuição dos fundos do PRR é criticada por perpetuar e até agravar as assimetrias regionais.
Em vez de utilizar o programa como uma ferramenta para promover um desenvolvimento equilibrado e fixar população no interior, a estratégia parece estar a reforçar a centralização. A análise da jornalista Mariana Coelho Dias no podcast "Economia dia a dia" do Expresso sublinha como esta abordagem falha em responder às necessidades específicas do interior, onde a falta de habitação acessível também é um obstáculo à atração de novos residentes e à revitalização económica. A política de habitação do Estado, mesmo com os fundos europeus, continua a deixar para trás grande parte do território nacional.
Em resumoA implementação do principal programa de habitação do PRR, o "1.º Direito", exibe um significativo viés geográfico a favor de Lisboa. Esta concentração de recursos negligencia as necessidades habitacionais do interior, minando os objetivos nacionais de coesão territorial e desenvolvimento equilibrado.