Este paradoxo evidencia a crescente desigualdade no setor e um mercado a duas velocidades.

Um exemplo claro desta dinâmica é o projeto residencial Ribamar, em Portimão.

Mesmo antes de estar construído, este empreendimento de 17 pisos junto à Praia da Rocha já vendeu mais de 40 habitações, totalizando um volume de negócios superior a 18 milhões de euros. De forma notável, mais de 80% das vendas foram realizadas a compradores residentes em Portugal, o que demonstra que existe capital nacional com capacidade para investir em imóveis de gama alta. Em Estremoz, um investimento de 50 milhões de euros foi anunciado para a construção de um hotel de cinco estrelas e 60 villas de luxo na Herdade das Pinas, um projeto que o promotor descreve como “projetado para o mundo”. Esta forte procura por propriedades de luxo contrasta de forma gritante com a escassez de oferta para a classe média e os jovens, que são sistematicamente empurrados para fora dos principais centros urbanos ou para soluções habitacionais precárias. O fenómeno levanta questões sobre o modelo de desenvolvimento imobiliário em Portugal, que parece priorizar o investimento de alto rendimento em detrimento da criação de soluções habitacionais acessíveis para a população em geral.