A face mais extrema da crise habitacional manifesta-se no ressurgimento de barracas e bairros de lata, um fenómeno que se julgava erradicado e que agora volta a ser uma preocupação nacional. A par disto, multiplicam-se os relatos de condições de habitação sub-humanas, expondo uma grave falha social e política. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, trouxe o tema para a agenda política ao afirmar que os núcleos de barracas e bairros de lata “voltaram devagarinho, aqui e ali, a ressurgir, sobretudo – tem que se dizer também – em câmaras governadas pelo Partido Socialista e pelo Partido Comunista”. O líder do PSD defendeu que este tipo de habitação tinha sido “erradicada por um governo com a mesma inspiração ideológica”, referindo-se aos executivos de Cavaco Silva, e que os autarcas sociais-democratas “não ficam a olhar” para este problema.
A gravidade da situação é corroborada por casos concretos que vieram a público.
Em Vila Nova de Famalicão, um menino de 10 anos, desaparecido desde julho, foi encontrado pela Polícia Judiciária numa “habitação devoluta, sem eletricidade ou água canalizada, num local de encontro e pernoita de pessoas ligados ao consumo de produtos estupefacientes”. A criança apresentava sinais de subnutrição e múltiplas lesões.
Noutra ocorrência, uma fiscalização da PSP no Seixal descobriu uma garagem onde estavam instaladas 44 camas, alugadas a cidadãos estrangeiros em condições de sobrelotação e insalubridade.
Estes casos ilustram a crescente precarização da habitação, que afeta tanto cidadãos nacionais como imigrantes, e a ligação entre a crise habitacional, a exclusão social e outros problemas como o consumo de drogas.
Em resumoO reaparecimento de bairros de lata, denunciado pelo Primeiro-Ministro, e casos chocantes como o de uma criança encontrada numa casa abandonada em Famalicão ou uma garagem com 44 camas no Seixal, revelam a dimensão mais grave da crise habitacional. Estas situações de extrema precariedade sublinham a urgência de respostas sociais e políticas eficazes.