A crise de acessibilidade à habitação em Portugal atinge níveis críticos, com o esforço financeiro para adquirir casa a tornar-se insustentável para muitos, mesmo em concelhos limítrofes das grandes metrópoles. Um retrato dos municípios elaborado pela Pordata revela que, paradoxalmente, o esforço para comprar casa em Odivelas já ultrapassa o de Lisboa, quando se compara o preço dos imóveis com os salários locais. Em Lisboa, onde o preço mediano de uma casa nova atinge os 5.035 euros por metro quadrado, um trabalhador com o ganho médio mensal local (1.985,6 euros) precisaria de poupar o equivalente a 18,1 salários anuais para adquirir um imóvel de 100 metros quadrados. Contudo, em Odivelas, apesar de os preços serem mais baixos (3.188 euros/m²), o ganho médio mensal também é significativamente inferior (1.185,9 euros), o que eleva o esforço financeiro para 19,2 anos de salários.
Esta disparidade evidencia que a crise não se limita aos centros urbanos mais caros, mas alastra-se à periferia, onde os salários não acompanham a valorização imobiliária.
O mesmo fenómeno observa-se na Área Metropolitana do Porto.
Embora o Porto seja o concelho mais caro da região, é na Maia que o esforço financeiro é menor entre os cinco municípios mais próximos.
Um trabalhador na Maia necessitaria do equivalente a 10,9 anos de salários para uma casa nova, menos dois anos do que no Porto.
Estes dados sublinham a crescente desconexão entre o mercado imobiliário e a realidade económica das famílias, tornando a habitação um dos temas centrais do debate político e social em todo o país.
Em resumoDados da Pordata demonstram a grave crise de acessibilidade à habitação, onde o esforço financeiro para comprar casa, medido em anos de salário, é maior em Odivelas do que em Lisboa. Este fenómeno, que também se verifica na Área Metropolitana do Porto, ilustra a profunda desconexão entre os preços dos imóveis e os rendimentos locais, agravando a crise para além dos grandes centros urbanos.