Este fenómeno tem tornado o acesso a uma casa um luxo, alterando profundamente o tecido social das cidades.
Durante décadas, a aquisição de casa própria foi vista em Portugal como um direito essencial, mas essa realidade desvaneceu-se. Atualmente, a habitação é cada vez mais tratada como um instrumento de lucro, e não como um lugar para viver. A entrada massiva de fundos de investimento, muitos deles controlados por grandes bancos como a Caixa Geral de Depósitos, Santander, Millennium BCP e BPI, acelerou este processo.
Estes fundos adquirem edifícios inteiros, frequentemente degradados, para os remodelar e colocar no mercado a preços incomportáveis para a maioria da população.
Esta dinâmica, conhecida como especulação imobiliária, prioriza a rentabilidade do ativo em detrimento da sua função social.
O resultado é um mercado onde quem tem mais capital dita as regras, pressionando os preços e as rendas para níveis insustentáveis.
A situação é agravada pelo turismo de massas e pela proliferação do Alojamento Local, que transformaram os centros de cidades como Lisboa e Porto em zonas de passagem para visitantes, em detrimento dos residentes. Bairros históricos foram esvaziados dos seus moradores tradicionais através de uma "expulsão silenciosa", onde famílias são confrontadas com despejos, aumentos de renda incomportáveis ou intimidação para abandonarem as suas casas.
Este processo enfraquece os laços comunitários e descaracteriza a identidade cultural das cidades, que se tornam cada vez mais territórios à venda ao melhor licitador e menos espaços para quem neles vive e trabalha.














