A produção anual de novas habitações está muito aquém das necessidades do mercado, criando uma pressão insustentável sobre os preços.
A análise de vários promotores imobiliários revela um desfasamento profundo entre a oferta e a procura no mercado habitacional português.
Atualmente, o setor da construção conclui em média 24 a 25 mil novas habitações por ano, com um pico previsto de 28 mil, um número drasticamente inferior às 100 mil casas que se construíam anualmente há duas décadas.
Este estrangulamento da oferta é um dos principais fatores que impede a estabilização ou redução dos preços.
Como afirmou Manuel Maria Gonçalves, presidente executivo da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), “os preços só se reduzem com mais oferta, mas não existe capacidade para fazer mais”.
A situação é exacerbada por uma carência de mão-de-obra estimada entre 80 a 100 mil trabalhadores, o que coloca a capacidade produtiva do setor “no limite”. Esta realidade lança sérias dúvidas sobre a exequibilidade dos ambiciosos planos governamentais de construção, nomeadamente os financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que terminam em 2026. Promotores e arquitetos alertam que nem os municípios nem o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) possuem a capacidade instalada para aproveitar os fundos disponíveis em tempo útil, com um promotor a notar que “cada autarquia trabalha com o PRR como se fosse uma microempresa”, sem uma estrutura centralizada que otimize os processos.
A incapacidade de aumentar a produção de forma significativa perpetua a crise de acessibilidade, tornando o acesso à habitação uma das maiores preocupações sociais e económicas do país.














