Esta tensão entre o aumento nominal dos rendimentos e a capacidade real de suportar despesas essenciais, como a casa, define um dos maiores desafios socioeconómicos do país.

Dados da OCDE indicam que o rendimento real per capita das famílias na organização cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025, mostrando uma aceleração. No entanto, um estudo da Euronews Business, com dados de 2024, coloca Portugal numa posição intermédia na Europa em termos de rendimento líquido equivalente mediano, com 12.646 euros, valor que fica abaixo da média da União Europeia de 21.582 euros. Quando ajustado ao poder de compra (PPC), o valor português sobe para 14.446, mas a distância para a média da UE (21.245 PPC) mantém-se.

Esta realidade é sentida no dia a dia das famílias.

Um estudo da Escolha do Consumidor revela que 25% dos portugueses não conseguem poupar qualquer parte do seu salário, e a maioria dos que poupam (30%) guarda apenas entre 10% e 20%.

A principal motivação para poupar é a criação de um fundo de emergência (44%), refletindo a insegurança económica.

As dificuldades em poupar são atribuídas aos salários baixos, despesas inesperadas e, crucialmente, à "renda ou elevada prestação da casa".

Este cenário demonstra que, embora os rendimentos nominais possam estar a subir, o aumento do custo de vida, liderado pela habitação, anula esses ganhos para muitas famílias.