A situação é particularmente grave para os mais vulneráveis, como os reformados, que chegam a recorrer a crédito pessoal para conseguir pagar a renda. Portugal foi identificado como o país da União Europeia onde a sobrecarga com os custos da habitação mais se agravou em 2024, com a proporção da população a enfrentar encargos excessivos a aumentar de 4,9% para 6,9%.

Este indicador levou Bruxelas a colocar o país sob uma atenção redobrada.

A pressão financeira é sentida de forma transversal, mas afeta desproporcionalmente os grupos mais frágeis.

Segundo Natália Nunes, da Deco, muitos reformados, confrontados com pensões baixas, a subida das taxas Euribor e o aumento generalizado do custo de vida, estão a recorrer a créditos pessoais para conseguirem pagar a renda, resultando em situações de sobre-endividamento. Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) corrobora esta vulnerabilidade, indicando que, em 2022, 7,5% das famílias portuguesas enfrentaram despesas de saúde consideradas "catastróficas", sendo os custos com habitação um fator de pressão subjacente. O mesmo estudo revela que 95% dos agregados reportaram pagamentos diretos em saúde, com os mais pobres a apresentarem cinco vezes mais necessidades não satisfeitas do que os mais ricos.

Esta conjugação de fatores — habitação cara e despesas de saúde elevadas — cria um ciclo de vulnerabilidade que afeta centenas de milhares de pessoas e agrava as desigualdades sociais no país.