O Tribunal de Beja iniciou o julgamento de 35 arguidos, incluindo 22 pessoas e 13 empresas, acusados de uma vasta gama de crimes no âmbito da “Operação Espelho”. Os arguidos respondem por tráfico de pessoas, associação criminosa, auxílio à imigração ilegal e branqueamento de capitais, num esquema que explorava trabalhadores imigrantes em explorações agrícolas no Alentejo. A acusação do Ministério Público detalha como a rede, ativa desde antes de 2020, aliciava imigrantes de países como Roménia, Moldova, Índia, Senegal e Timor-Leste com promessas de melhores condições de vida.
No entanto, as vítimas acabavam a trabalhar em regime de quase escravidão, “alojados em condições degradantes”, em quartos “sobrelotados, sem climatização e mal conservados”. Além das condições de habitação precárias, os arguidos cobravam aos trabalhadores despesas de alojamento, alimentação, transporte e documentação, o que resultava em situações onde os imigrantes não recebiam qualquer salário, sendo forçados a “mendigar por comida”.
Na primeira sessão do julgamento, a maioria dos arguidos optou pelo silêncio.
O processo revela uma faturação ilícita de quase 20 milhões de euros por parte da rede. Este caso destaca a intersecção entre a crise de mão de obra na agricultura, a imigração e a violação de direitos humanos, incluindo o direito a uma habitação digna, expondo a vulnerabilidade extrema a que muitos trabalhadores estrangeiros estão sujeitos em Portugal.
Em resumoO julgamento da 'Operação Espelho' revela um esquema de exploração de trabalhadores imigrantes no Alentejo, onde as condições de habitação desumanas eram uma ferramenta central de controlo e abuso. O caso expõe a face mais sombria da precariedade habitacional e laboral, ligada à criminalidade organizada e ao tráfico de seres humanos.