Esta dualidade desenha o retrato de “um país a duas velocidades”, onde o bem-estar individual contrasta com a desconfiança nas respostas coletivas.

De acordo com a 10.ª edição do Observatório da Sociedade Portuguesa, 71% dos inquiridos declararam-se felizes e 73,4% satisfeitos com a vida, superando os níveis pré-pandemia. No entanto, esta perceção positiva da esfera privada choca com a avaliação negativa das condições do país.

A habitação é a área que gera maior insatisfação, com o aumento dos preços a receber uma avaliação de apenas 2,45 numa escala de 1 a 10. A oferta de habitação nos centros urbanos (2,93) e a habitação pública (3,11) também estão entre as piores classificadas.

A coordenadora do estudo, Rita Coelho do Vale, refere que este desfasamento é “um dos sinais mais relevantes da sociedade portuguesa atual”.

A crise do custo de vida é igualmente visível na reavaliação do rendimento necessário para as despesas mensais: a percentagem de inquiridos que considera 1.000 euros suficientes caiu de 63,2% para 22,7% em apenas um ano, enquanto a fatia que aponta para a necessidade de mais de 1.500 euros subiu de 10,7% para 44,8%.