Um relatório da Convenção Nacional da Saúde (CNS) revela que 35,4% dos portugueses têm acesso simultâneo ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a um seguro ou subsistema de saúde. Este valor é três vezes superior à média da União Europeia (10,4%) e evidencia uma crescente segmentação no acesso aos cuidados de saúde no país. O Relatório de Avaliação de Desempenho e Impacto do Sistema de Saúde (RADIS) indica que, em 2024, 58% da população portuguesa detinha algum tipo de seguro, plano ou subsistema privado, um valor 25 pontos percentuais acima da média europeia. A proporção de pessoas com dupla cobertura tem vindo a crescer de forma consistente, passando de cerca de 20% em 2012 para os atuais 35,4%. O relatório aponta como causas para este fenómeno os copagamentos, as exclusões do cabaz público de serviços, a pressão sobre os tempos de espera no SNS e as estratégias comerciais das seguradoras.
Fatores como o envelhecimento da população, a maior literacia em saúde e a valorização da rapidez e conforto também reforçam esta procura.
A CNS alerta que esta tendência, embora seja uma “resposta adaptativa das famílias às limitações do SNS”, levanta desafios à equidade e à sustentabilidade do sistema, como o risco de aprofundamento de desigualdades e a transferência de profissionais para o setor privado.
O estudo mostra ainda que a despesa em saúde por habitante em Portugal (2.664,05 euros em 2024) está quase 20% abaixo da média europeia.
Em resumoA elevada taxa de dupla cobertura de saúde em Portugal, atingindo 35,4% da população, reflete uma crescente dependência do setor privado como complemento ao SNS. Este fenómeno, impulsionado pelas limitações do sistema público, levanta sérias questões sobre a equidade no acesso à saúde e a sustentabilidade a longo prazo do modelo de saúde nacional.