O encerramento simultâneo e inesperado das três urgências de obstetrícia e ginecologia na Península de Setúbal, durante o fim de semana de 13 e 14 de setembro, expôs uma vulnerabilidade crítica no Serviço Nacional de Saúde. A situação obrigou ao desvio de todas as utentes grávidas para hospitais em Lisboa, gerando forte alarme social e uma crise política para a tutela. A crise atingiu os hospitais Garcia de Orta (Almada), Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) e São Bernardo (Setúbal), que servem uma população de mais de 800 mil habitantes. O colapso foi particularmente grave dado que a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, tinha garantido em julho que a urgência do Garcia de Orta estaria a funcionar em pleno a partir de 1 de setembro, com a contratação de uma nova equipa. No entanto, o Ministério da Saúde anunciou no sábado o fecho do serviço, atribuindo-o à “indisponibilidade à última hora” de médicos prestadores de serviços.
A situação deixou toda a Península de Setúbal sem qualquer resposta nesta especialidade, forçando o encaminhamento de todas as grávidas para unidades hospitalares em Lisboa. A Ordem dos Médicos, através do seu bastonário Carlos Cortes, classificou o sucedido como uma “falha de planeamento grave” da Direção Executiva do SNS (DE-SNS), argumentando que deveria existir um “plano de reserva” para uma área com dificuldades tão conhecidas. As comissões de utentes e autarcas, como Inês de Medeiros de Almada, expressaram profunda preocupação, criticando o Governo por abandonar planos anteriores e por falhar nas promessas feitas.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, descreveu a situação como uma “escandalosa intermitência de urgências abertas e urgências fechadas” que põe vidas em risco.
Em resumoO encerramento coordenado das urgências obstétricas na Península de Setúbal evidenciou a extrema fragilidade do SNS numa área metropolitana densamente povoada. A falha em garantir um serviço essencial, mesmo após promessas governamentais, revelou problemas estruturais profundos, como a dependência de mão de obra precária e a inadequação do planeamento, desencadeando uma forte reação política e social.