Este recurso excessivo aos hospitais para situações não urgentes sobrecarrega o sistema e compromete a sua capacidade de resposta a casos verdadeiramente emergentes.

Um estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) revelou que, num período de quase dois anos, foram realizados cerca de 16 milhões de atendimentos nos serviços de urgência do SNS.

Deste total, uma análise mais detalhada indica que metade dos casos que chegam às urgências são classificados como pouco ou nada urgentes.

Este padrão de utilização demonstra uma falha na articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde, nomeadamente uma insuficiência na capacidade de resposta dos cuidados de saúde primários. Muitos utentes recorrem aos hospitais por não conseguirem uma consulta atempada no seu centro de saúde ou por falta de alternativas fora do horário de funcionamento normal destes.

A Ministra da Saúde reconheceu o problema e afirmou que o Governo pretende baixar estes números até 2027.

O elevado afluxo de casos não emergentes consome recursos valiosos — tempo de profissionais, equipamentos e espaço físico — que poderiam ser dedicados a doentes em estado crítico. Esta sobrecarga crónica torna os serviços de urgência mais vulneráveis a colapsos, especialmente em períodos de maior procura, e contribui para os longos tempos de espera, a exaustão dos profissionais e, em última análise, para a necessidade de encerrar serviços por incapacidade de resposta.