Nascido em Angola e a viver em Portugal desde os 11 meses, Adilson nunca obteve a cidadania portuguesa e encontra-se atualmente em situação ilegal, representando, segundo o artista, “milhares de pessoas deixadas nas margens do sistema”. Nas palavras de Dino D’Santiago, a obra tem como missão “revelar a hipocrisia da sociedade”, colocando em palco uma pessoa que, apesar de ser a inspiração da ópera, “vai continuar ilegal”.

Com direção musical do maestro Martim Sousa Tavares, a composição musical destaca-se pela sua riqueza cultural, incorporando “claves de todos os países que se expressam na língua portuguesa”, desde Angola e Cabo Verde ao Brasil e Moçambique.

Esta fusão de ritmos serve de base a uma narrativa sobre discriminação, burocracia e a procura por um sentido de pertença, culminando na frase proferida pelo próprio Adilson: “Eu não sou português, eu sou Portugal, um país à espera”.

A estreia, com lotação esgotada, no âmbito da BoCA, que este ano se estende a Madrid, amplifica a sua mensagem, posicionando-a como uma reflexão urgente sobre o que significa ser português num país cada vez mais multicultural, mas ainda enredado em labirintos burocráticos.