O músico Dino D'Santiago estreia-se no universo da ópera com "Adilson", uma obra que transcende o espetáculo para se afirmar como um manifesto sobre cidadania, identidade e justiça social. A peça, que estreia esta sexta-feira no Centro Cultural de Belém no âmbito da bienal BoCA, dá palco a uma história real que reflete o drama de milhares de imigrantes em Portugal. A ópera, com direção musical do maestro Martim Sousa Tavares e libreto criado a partir de um texto de Rui Catalão, centra-se na vida de Adilson, um homem afrodescendente, amigo de infância do músico, que vive em Portugal há mais de 40 anos sem nunca ter obtido a cidadania. A sua história, marcada por um "labirinto burocrático", representa "milhares de pessoas deixadas nas margens do sistema".
Dino D'Santiago, que também é filho de imigrantes, encara a obra como uma missão para "revelar a hipocrisia da sociedade" e dar um rosto a uma questão frequentemente abordada de forma generalista.
A composição musical, em parceria com Djodje Almeida, reflete esta pluralidade, incorporando claves rítmicas de todos os países de língua portuguesa, desde o adufe português à mbira moçambicana.
O próprio Adilson participará no espetáculo, subindo ao palco para, segundo Dino, "ver a sua história a ser escutada por mais de 3 mil pessoas".
Após a estreia em Lisboa, com lotação esgotada, a ópera será apresentada em Braga, Faro e Aveiro.
Em resumoMais do que uma estreia artística, a ópera "Adilson" posiciona-se como um ato cultural e político de grande relevância. Ao utilizar uma plataforma como o CCB, Dino D'Santiago desafia o público a refletir sobre o conceito de "portugalidade" e a confrontar as barreiras burocráticas e sociais que afetam a vida de milhares de pessoas em Portugal, transformando uma história pessoal num poderoso comentário sobre pertença e justiça.