O economista Álvaro Santos Pereira prepara-se para assumir o cargo de Governador do Banco de Portugal, sucedendo a Mário Centeno, num momento de desafios económicos e de transição na política monetária europeia. A sua audição na Comissão de Orçamento e Finanças do Parlamento, um passo obrigatório para a sua nomeação, definiu as linhas mestras do que se pode esperar do seu mandato de cinco anos. Durante a sua intervenção, Santos Pereira destacou a necessidade de Portugal manter uma trajetória de rigor orçamental, afirmando que “é essencial manter a disciplina fiscal nos próximos anos, para que a dívida pública continue a descer e para que tenhamos margem de manobra em caso de choques inesperados”. Garantiu ainda que a sua atuação será pautada por uma “independência feroz” face ao poder político e aos supervisionados, independentemente de quem esteja no Governo.
No que toca à política monetária, o futuro governador alinhou-se com uma visão mais restritiva, assegurando não ser uma “pomba”, e previu que as taxas de juro na Europa “vão-se manter durante algum tempo estáveis”, com decisões futuras dependentes da evolução dos dados económicos. Sobre o setor bancário, defendeu a importância de uma “banca saudável e com lucros para que a economia funcione bem” e considerou ser importante fomentar a consolidação bancária a nível europeu.
Abordou também temas polémicos, como a nova sede do BdP, prometendo total colaboração com a Inspeção-Geral das Finanças, e distanciou-se do seu antecessor ao afirmar que, terminado o seu mandato, não ficará como consultor do banco. A sua nomeação ocorre num contexto em que terá de se adaptar à cultura do banco central, supervisionar a venda do Novo Banco e gerir a relação institucional com o Governo e o Banco Central Europeu.
Em resumoA liderança de Álvaro Santos Pereira no Banco de Portugal será marcada pela defesa da disciplina orçamental e da independência do supervisor, enfrentando desafios como a supervisão da venda do Novo Banco, a gestão da política monetária num contexto de incerteza e a necessidade de fomentar a oferta de habitação para mitigar riscos para a estabilidade financeira.