Esta tendência de maior dependência de impostos sobre o consumo, como o IVA e o ISP, levanta questões sobre a equidade e regressividade do sistema fiscal. A proposta de Orçamento do Estado para 2026 projeta que o peso dos impostos indiretos — que incluem o IVA, ISP, IUC, ISV, Imposto do Selo, entre outros — suba de 52,1% em 2024 para 52,9% em 2025, alcançando 53,5% em 2026. Este valor iguala o recorde da década registado em 2021, sob governação de António Costa.

A estratégia não é nova, tendo sido uma ferramenta recorrente nos últimos dez anos para aumentar a arrecadação fiscal com menor custo político. O economista João Cerejeira, da Universidade do Minho, explica que, "como não se pagam diretamente, esses impostos passam despercebidos na chamada ‘anestesia fiscal’", o que lhes confere "um menor custo político".

Esta abordagem foi particularmente notória durante o mandato de Mário Centeno, com os impostos indiretos a atingirem um pico de 54,5% da receita em 2019. O atual Executivo prevê um aumento de 8,4% na receita de impostos indiretos em 2025 e de 5,1% em 2026, valores superiores aos projetados para os impostos diretos.

Contudo, esta dependência crescente é criticada pela sua natureza regressiva.

Um relatório da Unidade Técnica de Avaliação de Políticas Tributárias e Aduaneiras (U-TAX) sublinha que, apesar de o regime do IVA ter um ligeiro efeito redutor de desigualdades, a sua estrutura "continua regressiva", penalizando mais as famílias de baixos rendimentos. O mesmo relatório aponta que "as famílias de maior rendimento são as que mais beneficiam das isenções e taxas preferenciais do IVA".