Portugal continua a apresentar uma das taxas de poupança mais baixas da Zona Euro, uma fragilidade estrutural que coexiste com um volume recorde de mais de 197 mil milhões de euros em depósitos bancários. Este paradoxo reflete uma cultura de aforro conservadora e uma baixa literacia financeira, com implicações para a economia e para a sustentabilidade futura do sistema de pensões. Dados do Eurostat relativos ao segundo trimestre de 2025 indicam que a taxa de poupança das famílias portuguesas se fixou em 11,95%, significativamente abaixo da média de 15,5% da Zona Euro. Esta baixa propensão para poupar é atribuída a salários que continuam abaixo da média europeia e ao elevado peso das despesas fixas no orçamento familiar.
No entanto, em contraste com esta tendência, os dados do Banco de Portugal mostram que o valor acumulado nos depósitos bancários atingiu um novo máximo em setembro, ultrapassando os 197 mil milhões de euros.
Este crescimento ocorre apesar de a remuneração destes produtos estar em queda há 20 meses consecutivos. Gabriel Bernardino, presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), resumiu o comportamento nacional ao afirmar que os portugueses são “um público de aforradores, mas não de poupança de longo prazo”. Esta preferência por produtos de baixo risco e elevada liquidez, como os depósitos à ordem e a prazo, limita o investimento em instrumentos com maior potencial de retorno, como ações ou fundos de investimento, o que restringe o financiamento da economia e aumenta a dependência do sistema público de pensões.
Em resumoApesar de acumularem um valor recorde de mais de 197 mil milhões de euros em depósitos, os portugueses mantêm uma das taxas de poupança mais baixas da Zona Euro. Este paradoxo evidencia uma preferência por produtos de baixo risco e liquidez, refletindo uma cultura de aforro conservadora que, segundo especialistas, representa um desafio para o crescimento económico e a segurança financeira a longo prazo.