O Governo PSD/CDS-PP defende a sua proposta como um exercício de responsabilidade, argumentando que o excedente previsto é crucial para acomodar a execução de 0,8% do PIB em empréstimos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

No entanto, esta visão é desafiada por entidades independentes.

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) sugere que o Ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, dispõe de uma "almofada" orçamental não declarada de 0,5% do PIB, indicando uma margem superior à admitida.

Em contrapartida, o Conselho das Finanças Públicas (CFP), liderado por Nazaré da Costa Cabral, adota uma postura mais cautelosa, alertando para riscos que podem comprometer o saldo positivo e até levar a um défice. O CFP aponta para uma possível subestimação da despesa e uma receita alavancada por fatores não recorrentes, como dividendos e venda de imóveis. A presidente do CFP sublinhou a necessidade de manter a contenção orçamental, afirmando que "enquanto não tivermos um controlo efetivo do comportamento da despesa corrente primária do Estado, pode ser imprudente [...] fazer reduções estruturais de receita pública". Adicionalmente, o CFP alertou para o risco de contágio da situação financeira de França, cuja elevada dívida pública e dificuldades orçamentais poderiam afetar a perceção de risco de economias dependentes como a portuguesa.